quarta-feira, 12 de maio de 2010

CONCEITOS FUNDAMENTAIS .:. GUIA LAYOUT MASTER SCENES

Sempre fiquei me perguntando, antes de fazer um curso sobre roteiro e começar a escrever alguns, como faria pra saber quantos minutos meu texto tinha, como formatar melhor pra toda a equipe entender, enfim, como fazer um roteiro compreensível para todos. Acabei descobrindo muita coisa sozinho outras com os amigos e professores. Aqui tem algumas dicas que coletei com o tempo. Espero que gostem e utilizem.


Hoje em dia, podemos dizer que quase todos os roteiros para cinema são escritos no formato Master Scenes, que implica uma página de roteiro para cada minuto de filme. Para conseguir esse tempo Pg/Mim, requer um pouco de prática, mas não conseguir alcançá-lo não é um desastre.

Por que usar o Master Scenes? Por que é um sistema simples, muito usado (qualquer pessoa da área de cinema que vê-lo vai saber que é um roteiro) e permite ao roteirista se concentrar mais no que é o dever dele: contar uma história.

Alguns roteiristas usam uma formatação mais liberal, que permite a indicação de transições e, às vezes, a indicação de planos quando for essencial para o entendimento da cena. Já no Master Scenes, mais rigoroso, o roteirista não pode fazer qualquer tipo de indicação ao diretor, poucas vezes aos atores, raramente a qualquer outro técnico da fase de produção. Isso faz sentido, pois quando num roteiro está escrito: "MARIA brinca com sua aliança de casamento entre os dedos", nenhum diretor será louco de mostrar essa cena em plano geral! O que ele fará será um enquadramento em close, ou mais próximo, ou até mesmo um zoom.

Como regra, corte o máximo possível de indicações técnicas e se concentra ao máximo no enredo do roteiro. Sempre há algum modo de sugerir algo ao diretor, fotógrafo, ator, editor e outros da área, e realmente não é necessário usar explicitamente um termo técnico... Use o bom senso.

1. PREPARANDO A FOLHA

Papel
Tipo Carta (21,59 cm x 27,94cm)

Margens
Superior: 2,5 cm.
Inferior: entre 2,5 cm a 3 cm;
Margem esquerda: de 3,5 cm a 4 cm
Margem direita de 2,5 cm a 3 cm;

Fonte
Courier New, tamanho 12 pt. Não use itálicos ou negritos.

2. CABEÇALHOS

Alinhamento esquerdo;
Todas em MAIÚSCULO;
Numeração opcional.

3. DESCRIÇÃO DA CENA

Alinhamento esquerdo ou justificado;
Uma linha de espaço entre os parágrafos;

4. DIÁLOGO

• Personagem
Recuo esquerdo de 6 a 7cm;
Todas em MAIÚSCULAS.

• Indicação ao ator
Recuo esquerdo 2 cm a 2,5 cm menor que o recuo do Personagem;
Entre parêntesis.

• Outras indicações
Escritas ao lado do nome do personagem, entre parêntesis, usando a mesma formatação:
V.O. = Voice Over (voz)
O.S. = Out of Screen (fora da tela);
CONT = Continuando;
MAIS = usado para indicar que o diálogo foi quebrado pela página.

• Diálogo
Recuo esquerdo de 3 cm a 4 cm;
Recuo direito de 1,5 cm a 2,5 cm;
Alinhamento esquerdo ou justificado;

5. TRANSIÇÕES

Alinhamento direito;
Todas em MAIÚSCULO.

6. CAPA

Deve conter o título em destaque; o nome do autor, dados do copyright, dados como o endereço, contato, agente, etc.
Geralmente, a capa é escrita do seguinte modo:

Fontes Courier New 12 pt;

TÍTULO DO ROTEIRO quase ao centro da folha, todas em MAIÚSCULA;
Abaixo do título o nome do autor;
Nas últimas linhas dados do Copyright, do autor, do agente e contato.

7. SEGUNDA PÁGINA

Na quarta linha escreva o Título do Roteiro, centralizado, todas em MAIÚSCULA;
Duas linhas abaixo, com alinhamento esquerdo, todas em maiúscula, escreva FADE IN. Duas linhas abaixo começa o roteiro em si.

8. ÚLTIMA PÁGINA

Com a mesma formatação das transições, escreva FADE OUT três linhas após o termino do roteiro;
Três linhas embaixo do FADE OUT escreva FIM ou FINAL, todas em MAIÚSCULA, alinhamento centralizado.

9. NÚMERAÇÃO

Em todas as páginas, exceto a capa, no canto superior esquerdo da página;
Fonte normal, 12 pt.

10. ESPAÇAMENTO

• Espaçamento simples durante os:
Diálogos;
Nomes;
Indicações ao ator;
Descrições das cenas.

• Espaçamento duplo (equivalente a dois Enters) entre os:
Cabeçalhos;
Descrições das cenas;
Transições;
Diálogos.

11. OBSERVAÇÕES

Não haverá problemas se você usar uma padrão de formatação um pouco diferente -- só um pouco mesmo --. O importante é tornar a leitura o mais fácil e visual possível, contendo bastante espaço em branco para uma futura equipe fazer anotações nas estrelinhas.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Que é um Roteiro?

Um pouco mais sobre roteiro:


Um guia, um projeto para um filme? Uma planta baixa ou diagrama? Uma série de imagens, cenas e seqüências enfeixadas com diálogo e descrições, como uma penca de peras? O cenário de um sonho? Uma coleção de idéias?


O que é um roteiro?


Bem, não é um romance e certamente não é uma peça de teatro. Se você olha um romance e tenta definir sua natureza essencial, nota que a ação dramática, o enredo, geralmente acontece na mente do personagem principal. Privamos, entre outras coisas, de pensamentos, sentimentos, palavras, ações, memórias, sonhos, esperanças, ambições e opiniões do personagem. Se outros personagens entram na história, o enredo incorpora também seu ponto de vista, mas a ação sempre retorna ao personagem principal. Num romance, a ação acontece na mente do personagem, dentro do universo mental da ação dramática.

Numa peça de teatro, a ação, ou enredo, ocorre no palco, sob o arco do proscênio, e a platéia torna-se a quarta parede, espreitando as vidas dos personagens. Eles falam sobre suas esperanças e sonhos, passado e planos futuros, discutem suas necessidades e desejos, medos e conflitos. Neste caso, a ação da peça ocorre na linguagem da ação dramática; que é falada, em palavras.

Filmes são diferentes. O filme é um meio visual que dramatiza um enredo básico; lida com fotografias, imagens, fragmentos e pedaços de filme: um relógio fazendo tique-taque, a abertura de uma janela, alguém espiando, duas pessoas rindo, um carro arrancando, um telefone que toca. O roteiro é uma história contada em imagens,diálogos e descrições, localizada no contexto da estrutura dramática.

O roteiro é como um substantivo — é sobre uma pessoa, ou pessoas, num lugar, ou lugares, vivendo sua "coisa". Todos os roteiros cumprem essa premissa básica. A pessoa é o personagem, e viver sua coisa é a ação.

Se o roteiro é uma história contada em imagens, então o que todas as histórias têm em comum? Um início, um meio e um fim, ainda que nem sempre nessa ordem. Se colocássemos um roteiro na parede como uma pintura e olhássemos para ele, ele se pareceria com o diagrama da página 13.

Esta estrutura linear básica é a forma do roteiro; ela sustenta todos os elementos do enredo no lugar. Para entender a dinâmica da estrutura, é importante começar com a própria palavra. A origem latina de estrutura, structura, significa "construir" ou "organizar e agrupar elementos diferentes" como um edifício ou um carro. Mas há outra definição para a palavra estrutura, que é "o relacionamento entre as partes e o todo".

As partes e o todo. O xadrez, por exemplo, é um todo composto de quatro partes: as peças — rainha, rei, bispo, torre, cavalo, peões; o jogador ou jogadores, porque alguém tem que jogar o jogo de xadrez; o tabuleiro, porque não se pode jogar xadrez sem ele; e a última coisa de que se necessita para jogar xadrez são as regras, porque elas fazem o jogo da forma que é. Essas quatro coisas — peças, jogador ou jogadores, tabuleiro e regras, as partes — são integradas num todo, e o resultado é o jogo de xadrez. É o relacionamento entre as partes e o todo que determina o jogo.

Uma história é um todo, e as partes que a compõem — a ação, personagens, cenas, seqüências, Atos I, II, III, incidentes, episódios, eventos, música, locações, etc. — são o que a formam. Ela é um todo.

Estrutura é o que sustenta a história no lugar. É o relacionamento entre essas partes que unifica o roteiro, o todo.

Esse é o paradigma da estrutura dramática.

Um paradigma é um modelo, exemplo ou esquema conceituai.

O paradigma de uma mesa, por exemplo, é um tampo com quatro pernas. Dentro do paradigma, podemos ter uma mesa baixa, uma mesa alta, uma mesa estreita, uma mesa larga; ou uma mesa circular, uma mesa quadrada, uma mesa retangular; ou uma mesa de vidro, mesa de madeira, mesa de ferro batido, de qualquer tipo, e o paradigma não muda — permanece firme, um tampo com quatro pernas.


Isto é o paradigma de um roteiro. Veja a seguir como ele é decomposto.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Para que serve um Roteiro!

Dando continuidade ao assunto roteiro:


Cinema é arte, sem dúvida, a sétima arte. Mas cinema é também indústria. É indústria pois precisa de meios de produção, acumulação de capital e divisão especializada do trabalho. E é a serviço desta indústria, que o roteiro exerce sua principal função.

“O roteiro é a ferramenta básica da indústria de cinema e televisão.” - Cole & Haag

O roteiro será o documento chave, onde todos os outros profissionais envolvidos com a realização de um produto audiovisual basearão seu trabalho.

“Roteiro é (...) um discurso verbal, escrito de forma a permitir a pré-visualização do filme por parte do diretor, dos atores, dos técnicos e dos possíveis financiadores. Um instrumento de trabalho e de convencimento. (...) Uma utopia criativa a serviço de um objetivo fundamentalmente econômico: uma boa definição não só de roteiro, mas da própria essência do cinema.” - Giba Assis Brasil

A realização de um produto audiovisual demanda um investimento de capital muito alto. O roteiro é a maneira de pré-visualizar este produto, e minimizar os riscos de investimento.

“Desde uma perspectiva comercial, um roteiro é uma proposta para o lançamento de um produto. Os aspectos artísticos podem ser decisivos 'a priori', mas sempre se impõe as possibilidades econômicas na hora de aprovar um projeto. (...) Em função de um roteiro literário, a produtora pode estimar o custo de um filme e elaborar um estudo de mercado que assegure sua acolhida como produto. (...) E quando buscam o financiamento necessário para o futuro filme, só podem oferecer uma coisa: a história” - António Sanchez-Escalonilla

O roteiro serve então, como uma simulação de um produto audiovisual sonhado.